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sábado, 19 de fevereiro de 2011

A Verdadeira Oração

Do ponto de vista Latu sensu a oração é uma prática religiosa comum a diversas confissões religiosas e vulgarmente designada como uma relação, uma conversa ou um ato de reconhecimento e louvor diante de um ser transcendente ou divino. Já em sentido stricto sensu essa palavra alcança uma profundidade teológica de consideráveis proporções, uma vez que abarca elementos que vão da vida pessoal (intimidade humana) à vida devocional (intimidade espiritual) de onde procedem peças, atributos e componentes para o culto divino.
Não pode existir uma verdadeira oração sem louvor, razão pela qual a teologia defende a exaltação como primeira instância da oração. Não começamos uma oração sem pronunciar e proclamar o senhorio ou a grandeza de Deus e isso esta posto de forma verticalizada, foi Ele, ainda lá no Seu secreto conselho que programou e estabeleceu esse ato de submissão do mortal frente ao Seu poderio e Sua grandeza. De sorte que toda a oração sincera, temente e desejosa de uma resposta, começa com uma dessas exaltações:
... Eterno Deus... ... Querido Deus... ... Eterno Pai... Senhor nosso Deus. Etc.
Uma vez provado que Deus, no Seu secreto conselho, programou e estabeleceu regras para a oração, cabem-nos como seus súditos, procurar compreender e conhecer as regras do reino, a fim de sermos aceitos ou termos as nossas orações ouvidas. Se os poetas, no intuito de agradar os seus leitores, (efêmeros e mortais) produzem suas poesias com rimas e métricas, ou aprofundando-nos um pouquinho na literatura, vemos os compositores do gênero épico, principalmente os narradores de epopéias, preocupados em organizá-las em exórdio ou preposição (introdução em que se apresenta o herói e o tema), Invocação (um pedido de inspiração às musas da poesia ou espíritos), Dedicatória (O poema é dedicado a alguém; um rei, um protetor ou um povo, Narração (Os fatos são narrados com ênfase nas peripécias do herói e nos acontecimentos históricos e Epílogo (Fechamento da Epopéia geralmente com a consagração dos heróis); por que também não aceitarmos que a oração piedosa e sincera haveria de obedecer a critérios que levam a instâncias que na maioria das vezes desconhecemos ou preferimos simplesmente ignorar? – Muitas orações deixam de ser até ouvidas, porque antes mesmos de começá-las, os suplicantes já ofenderam a santidade do Todo Poderoso.
Primeira Instância – Exaltação.
A primeira instância inevitável para se alcançar uma verdadeira oração é a exaltação, porque através dela ocorre um fenômeno híbrido involuntário, que como dissemos, procede da sabedoria do Eterno no planejamento da oração; enquanto o meu eu exaltado, reconhece na figura de Deus, O Senhor, ele se torna diminuto diante desse Senhorio e é isso que Deus gosta. A partir desse primeiro passo, minha oração já começa a ser aceita, pois o meu quebrantamento, mesmo que involuntário, aconteceu no momento que declarei a grandeza de Deus em chamá-lo de Senhor e ao curvar-me diante do seu poderio.
Segunda Instância – Confissão.
Cumprido o protocolo da primeira instância o ato da confissão vem também de forma verticalizada, porém automatizada, uma vez que nenhuma carne suporta apresentar-se diante da santidade do Todo Poderoso sem sentir os efeitos da sua miserável vida de pecaminosidade. A confissão será automática, foi assim que aconteceu com o profeta Isaias quando da visão do templo inserida no capitulo seis do seu livro. Esse ato confessional opera também como esvaziamento daquilo que nos molesta espiritualmente, como penas, pesares, ódios, rancores, intrigas, dissensões paixões e concupiscências.
Vejamos que estamos já na segunda instância e ainda não começamos a orar, no entanto, estamos nos sentindo tão leves que, se voltássemos daqui sem tocar no altar, já levaríamos conosco grande sinal de vitória. Muitos cristãos ainda não atentaram que a comunhão com Deus é a peça de que mais precisamos para a nossa trajetória, pois comunhão (comum união) com Ele representaria não apenas o mitigar, mas o fim do nosso sofrimento. Assim, poderíamos viver no reino sem nada pedir, apenas exaltando-o e Ele cuidando de todos os nossos anseios; mas a nossa falta de fé e insegurança, não nos permite ver essa glória e nem viver dessa maneira. Pobres de nós!
Terceira Instância – Apresentação.
Mesmo sabendo das nossas necessidades, é característico do desejo de Deus que a Ele recorramos com as nossas demandas; e estas deverão ser a Ele apresentadas de maneira formal, Deus gosta de ver a sabedoria que Ele nos deu sendo posta em prática. Não significa que se orarmos de forma desordenada Ele não nos ouvirá, pois na Sua onisciência, ele conhece até o que pensamos; como também, para dar forma correta às nossas orações, Ele dispõe do Espírito Santo como nosso Paracleto (Advogado) que conhece os termos técnicos de petição que nós, os leigos desconhecemos. O que pesa aqui é a premissa do respeito ao desejo humano, Deus se alegra quando o desejo que lhe apresentamos se coaduna com a Sua Palavra e vontade, Ele em primeira mão jamais imporia seu querer ao homem; prova disso foi quando Ele fez passar todos os animais perante Adão, para ver como este os chamaria. Na verdade, o que Deus pretendia era despertar em Adão o desejo por uma companheira como os tinham os animais e lhes garanto que logrou grande êxito.
Deus quer que apresentemos a Ele, nossos anseios, necessidades, demandas e questões. Seria como fazer um pacote daquilo que desejamos d’Ele e passássemos às Suas mãos, daí para frente esses problemas apesar de continuarem sendo do nosso interesse, não nos pertencem mais no que concernem ao futuro. A nossa persistência em reapresentá-los, Deus a reprova por caracterizarem falta de confiança ou fé de que Ele seja capaz de resolvê-los. A essa atitude, a bíblia chama vãs repetições. Como na esfera jurídica, a entrega do processo gera um protocolo que lhe garante que o mesmo será acompanhado, não sendo mais necessário que o requerente volte a apresentar outra peça contendo o mesmo teor. É nesse aspecto que a oração difere da súplica; enquanto a oração é a apresentação da peça, a súplica é o clamor para que se aprecie algo que já tramita e esta na espera de um parecer ou de uma resposta, mas da súplica trataremos a seguir, pois ela representa a instância imediata.
Quarta instância – Súplica.
A palavra súplica é um substantivo feminino que pode significar oração feita com insistência e submissão; prece, rogativa pedido, memorial em que se solicita favor, graça ou esmola. A partir da definição percebemos que a súplica encontra-se em escala elevada da oração, ou quiçá vista de outro ângulo, em escala bem mais profunda, quase chegando ao que poderia ser chamado de um desespero humano. No entanto, vemos na súplica, componentes que atenuam uma resposta bem mais pronta que a da oração; uma vez que a oração foi o ato preliminar que conduziu os anseios ou inquietações do indivíduo ao trono da graça, e a súplica é a humilde petição para que aqueles pedidos sejam atendidos. E, visto dessa forma podemos ate compreender que, quando nossas orações são ouvidas em forma de oração, é porque a nossa comunhão esta em elevado estado; e, quando Deus sente saudade de nós, então não responde as nossas orações para que passemos a buscá-lo utilizando-nos da instância seguinte e mais profunda que é a instância da súplica.
Pensando ainda na súplica, cabe aqui um alerta àqueles que despejam sua ira e irreverência quando estão apresentando suas súplicas, atitude em nada louvável e repudiada pelo modelo bíblico e teológico. Se analisarmos a palavra súplica em seu sentido etimológico (Etimologia = Ciência que estuda a raiz da palavra) veremos que a mesma haverá de estar acompanhada de humildade e submissão, peças que deverão estar presente nos processos de quem deseja alcançar a mercê de algum superior.
Temos no exemplo bíblico deixado pela nossa irmã Ester, duas palavras ou termos para os quais quem deseja alcançar alguma coisa devera atentar, ao dirigir-se ao rei Assuero disse ela: “Se achei graça aos olhos do rei, e se bem lhe parece, seja-me concedida a minha vida pela minha petição e o meu povo pelo meu requerimento”.
Ester sabia a diferença entre petição = um pedido simples a uma autoridade, enquanto que requerimento é a busca de algo a que se tem direito adquirido. Exemplo: a criança nascida no Brasil tem direito a uma certidão de nascimento, daí então, os pais podem fazer um requerimento solicitando dito documento.
Ao tomar essa nobre atitude, a Rainha Ester, em nada estimou a sua vida, pondo-a apenas como petição. Porém, a sorte do seu povo (os Judeus) pôs como requerimento, uma vez que o rei havia empenhado até metade do seu reino como elementos de regalos à mulher que havia escolhido como rainha.
Para concluir este tópico e deixar melhor fixado o que pode representar este importante elemento; deçamos às águas e contemplemos um oficial castigando um de seus subordinados insubordinados. “vou ensinar-lhe duas coisas, como suplicar e como achar a Deus”.
Para ensinar-lhe a primeira lição, mergulhou a cabeça do subordinado ate quase afogá-lo, quando o soldado foi tirado disse-lhe: MISERICORDIA!!! – O oficial disse-lhe: aprendestes a primeira lição, mas o soldado antecipou-se e lhe disse, “bondoso oficial, acredito ter apreendido as duas”! Como, indagou o oficial, ao que lhe respondeu o soldado, acho que acharei a Deus, sempre que anelar por ele e o buscar, como anelei pelo ar e busquei respirar enquanto estava submerso.
Quinta Instância – Agradecimento.
Se atentarmos para a história que encerra o parágrafo anterior, perceberemos na exclamação do soldado (bondoso oficial) que outrora odiava o seu comandante e lhe era insubordinado, aprenderemos que as vezes, Deus precisa nos submergir até não termos mais fôlego e depois tirar-nos para que possamos reconhecer três coisas:
1- Sua bondade em ter-nos deixado viver,
2- Que é com humilhação que se alcança o favor,
2- Que é com desejo sincero, ardente e necessidade absoluta d’Ele que devemos buscá-lo.
O agradecimento haverá de fazer parte da oração quanto a exaltação e humilhação que aqui aparecem juntas, a confissão, a apresentação e a súplica.
A verdadeira oração é elemento imprescindível ao homem considerando que este, poderá até adotar para si vários deuses, porém, a sua luta será sempre contra um só inimigo. E este inimigo somente será vencido pela oração.
A verdadeira oração não será conhecida pelos gritos de desespero, mas pela confiança de que nossos problemas estão depositados nas mãos daquele que tudo pode e quer nos ajudar. Por isso, oremos, oremos e oremos.

Pr. Mario Rodrigues Furtado é Bacharel, Mestre e Doutor em Teologia.

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